Por Caroline Marcon -Fundadora da Marcon Leadership Consulting e Sócia da Field Top Teams Consulting
Neste ano único que estamos vivendo, movimentos de inclusão social tais como o aumento da participação das mulheres em posições de liderança felizmente vêm ganhando destaque.
Temos exemplos recentes na política, como a Primeira Ministra da Nova Zelândia Jacinda Ardern e na educação como a ativista Prêmio Nobel Malala Yousafzai que acaba de obter sua graduação em Oxford. Nos negócios, executivas de impacto vêm transformando os setores em que atuam, servindo de referência para uma nova forma de liderar. Tenho visto com frequência a afirmação de que o futuro da gestão é feminino, o que não se refere somente à quantidade de mulheres em posições de comando, mas principalmente ao DNA feminino da gestão.
Uma iniciativa recente neste sentido é o projeto Decoding Disruptors, patrocinado pela Microsoft e realizada pelo especialista em psicologia da alta performance Dr. Michael Gervais. Neste projeto, Gervais utilizou várias técnicas de entrevista para identificar o DNA de 9 mulheres consideradas disruptivas. O estudo traz exemplos de empreendedorismo em 7 setores, incluindo bens de consumo, tecnologia, finanças, agronegócio e mídia & comunicação e governo. Histórias interessantíssimas de mulheres que enfrentaram batalhas de gênero, raça, condições de saúde e socioeconômicas. Venceram e estão só começando. Os resultados do estudo bem como as entrevistas estão disponíveis em uma Masterclass que pode ser acessada gratuitamente em:https://www.decodingdisruptors.com/masterclass
Entre as entrevistadas, destaco Bozoma Saint John, recém contratada pela Netflix como CMO Global. Ela tem passagens como CMO pela Uber, Apple, Pepsico e, mais recentemente, pela Endeavor. Bozoma acumula uma lista longa de reconhecimentos como executiva, tais como “Most Influential CMOs” pela Forbes e pela Fortune. Bozoma tem como propósito a inclusão social de mulheres negras e recentemente engajou-se no movimento “Share the Mic Now” assumindo temporariamente a gigantesca conta de Instagram de Kourtney Kardashian para amplificar sua comunicação com mulheres negras que trabalham para conquistar o seu espaço na alta liderança das empresas.
Outro destaque é a indiana Shivani Siroya, fundadora e CEO do aplicativo Tala, destinado a prover acesso a microcrédito a 2 bilhões de pessoas ignoradas pelas instituições financeiras tradicionais. Seu propósito é transformar o setor financeiro por meio da confiança, emprestando dinheiro para pessoas que não tem histórico de crédito. Shivani tem colhido resultados excepcionais com o aplicativo e nos inspira a restaurar a confiança nos negócios indo além de estereótipos.
A história inspiradora da empreendedora Cashmere Nicolle também é cheia de desafios e conquistas. CEO e fundadora da Beauty Bakery, empresa de cosméticos veganos cujo valor subiu recentemente de 3 milhões para 40 milhões de dólares após receber investimento da Unilever. Cashmere lutou contra um câncer e percebeu a dificuldade de muitas mulheres que não podem consumir maquiagens tradicionais. Encontrou na sua dor a sua oportunidade e o seu propósito: impactar o mercado de beleza com produtos saudáveis e de longa duração, para permitir às mulheres utilizarem melhor o tempo e elevarem a autoestima.
Afinal, qual o DNA inspirador destas mulheres disruptivas? O estudo responde a esta pergunta em duas partes: mentalidade (como pensam) e ferramentas de autoconhecimento (como aprendem e se desenvolvem).
A mentalidade disruptiva tem as seguintes características:
Autoconfiança (confidence, em inglês): é a 'conversa interior'. O que dizemos a nós mesmos está 100% sob o nosso controle. Assim, escolha pensamentos que lhe permitam formar um sistema de crenças capaz de ajudá-lo a ser quem você deseja ser. Para desenvolver autoconfiança, primeiro é preciso identificar os seus padrões de pensamento, para que você possa manter o que ajuda e reprogramar o que está atrapalhando o seu desempenho. É algo simples, mas que exige um compromisso pessoal profundo.
Para fortalecer a autoconfiança, pergunte a si mesmo:
1. Qual é a palavra que melhor descreve você quando está se sentindo muito confiante?
2. Qual o pensamento negativo/ limitante que mais vem à sua mente? Como seria uma forma mais positiva de encará-lo?
3. Quais desafios você já enfrentou na sua vida que lhe permitem afirmar que você tem o que precisa para realizar seus objetivos?
Confiança (trust, em inglês): é saber que você pode se adaptar a diferentes desafios, por isso aceita correr riscos. É fazer escolhas conscientes e assumir total responsabilidade por elas.
Recomendações práticas para começar já:
1. Nos próximos 10 dias, escolha fazer pequenas coisas que lhe causem algum desconforto. Veja como você se adapta, é provável que o desconforto vá diminuindo na medida em que os dias forem passando e que você se sinta apto a escolher desafios maiores.
2. Para construir confiança em relação a outras pessoas, assuma que a intenção delas é a melhor possível. Confie primeiro.
Atenção plena ou mindfulness: é focar no aqui e agora, sem julgar tudo o que acontece. A atenção plena é formada por consciência e sabedoria. Para desenvolvê-la é preciso formar hábitos, especialmente por meio da meditação e de exercícios de respiração. Estes hábitos já foram comprovados por inúmeras pesquisas médicas como auxiliares na melhoria da qualidade do sono, do humor, na redução dos níveis de estresse e no aumento da produtividade. As entrevistadas compartilham do hábito de tomar tempo para reflexão e valorizar os próprios conselhos.
Garra é onde a paixão e a perseverança se encontram para alcançar um objetivo de longo prazo. Paixão é aquela chama interna que permanece acesa ao longo do tempo e perseverança é a habilidade de lidar de forma consistente com frustrações e obstáculos. Quem tem garra, tem uma visão muito clara de onde quer chegar e se compromete em desenvolver as habilidades necessárias para superar os tempos difíceis, mantendo a paixão viva. Tenha clareza de seus objetivos e trace pequenos planos para alcançá-los, um dia de cada vez.
Otimismo é a crença fundamental de que o melhor está por vir. Não se trata de ignorar a realidade, e sim de reconhecer que muitas coisas não saem da maneira como planejamos, mas nem por isso precisamos gastar energia antecipando probabilidades negativas. O otimismo é um componente importante para influenciar pessoas e vender ideias. Para desenvolver uma mentalidade otimista, comece o dia visualizando as coisas boas gostaria que acontecessem. Ao final, anote quantas coisas boas de fato se realizaram. Isso ajuda a manter a positividade no radar.
Agora que já conhecemos as características da mentalidade disruptiva, vejamos quais as ferramentas de autoconhecimento sugeridas:
Visão pessoal: a visão libera a imaginação para criar futuros que ainda não existem. Ela é mais ampla que os nossos objetivos. Os objetivos são passos para alcançar a visão pessoal. Outro ponto importante é que a visão cria conexão emocional, pois é repleta de significado. O significado nos ajuda a manter a persistência nos momentos de maior dificuldade.
Filosofia pessoal: é uma frase, uma declaração de princípios que resume a nossa maneira de tomar decisões. É uma excelente ferramenta de autoconhecimento e de definição de marca pessoal, pois é única para cada pessoa. Ela expressa as nossas verdades em determinado momento da vida – e deve ser revisada de tempos em tempos.
Propósito: é ter a consciência de que somos guiados por algo muito maior do que nós mesmos. Gervais define propósito por meio de três características principais: é algo extremamente significativo, é maior do que você mesmo e requer tempo para ser realizado. Para encontrar o seu, volte para o começo e invista em autoconhecimento.
Ter como inspiração mulheres autênticas e dispostas a compartilhar sua vulnerabilidade, seus desafios e seu processo de aprendizagem é algo poderoso - não somente para as mulheres, mas para todos os líderes abertos e comprometidos a abraçar a realidade e melhorá-la. E você, também acredita que o futuro DNA da liderança é feminino?
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